terça-feira, 29 de setembro de 2009

REFLEXÕES

Quanto vale a cena?







Quanto vale o desafio, o engatinhar no frio, o costurar do linho, o rasgar de brios, os ensaios em fogo, o jogar no jogo. O embriagar palavras, desafiar cenários. Caras-de-sal, pernas-de-pau, lobos-sem-mau, barcos de jornal. Mentira e cilada. Fugas pra lá do eu, pra lá do nada?


Quanto vale a resistência, o fazer presença, loucura e saliência. O juntar de hastes, o pisar nos trastes, improvisar por partes. Mambembe sem leme. Rinque com creme. Lutar em segundo. Tablado ou escudo?


Quanto vale a viagem, o arrumar bagagens, o pegar a estrada. Quebrar os fusos, mudar os usos, ficar cafuso. Descer do forro e pisar o novo, o desatino, o estar sem grana, o valer a gana, o deitar na lama, sem grades, sem limos?


Quanto vale uma estréia, Zeus ou Medéia. Uma quase verdade, uma falsa vontade. Um gole de vinho, bacante e espinho, com aplauso no fim. O espelho do camarim, a marca do batom, o pisar na coxia, a espera do toque. O deixar de recolher. O medo de esquecer. O tropeço, o aconteço. Um terceiro sinal?


Quanto vale a respiração ofegante, a platéia delirante, o júri opinante, o último instante?


Quanto vale a vida?


Quanto vale a cena?






Ed Anderson Mascarenhas/ jurado do IX FETACAM


Primavera 2009

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PAULO AFONSO CASTRO



REFLEXÕES SOBRE A INICIAÇÃO AO TEATRO


A oportunidade de participar como observador e debatedor nesta MOSTRA REGIONAL 11 DE TEATRO, me possibilita assistir as peças e cenas breves resultantes das oficinas preparatórias. Analisar todo este processo sem considerar sua temporalidade, o contexto da trajetória do movimento teatral na região, como também o tempo de realização efetiva dos encontros e ensaios de cada grupo, seria desconsiderar aspectos fundamentais deste processo. A constância de ações culturais concretas desta natureza, empreendida por bravos companheiros e companheiras ao longo sobretudo das duas últimas décadas, fazem de Campo Mourão, Goioêre e municípios da região referência e destaque de um Teatro atuante, de base comunitária. Muitos frutos já renderam de todo este plantio artístico, grupos nasceram, cresceram, desenvolveram-se, transformaram-se e influenciaram novos artistas e platéias. A realidade atual então deve ser examinada criteriosamente, é preciso exercer a auto-crítica e a reflexão, desde o trabalho de base, as oficinas de iniciação e difusão do Teatro aos espetáculos produzidos. E sobretudo as inter-conexões do Teatro com as outras artes cênicas. Na contemporaneidade da cena do século XXI, a Dança, o Circo e Teatro ocorrem em sintonia, transpondo suas fronteiras estéticas, fundindo-se, mesclando-se e redescobrindo-se a partir das múltiplas possibilidades daí decorrentes. Estas tendências e caminhos, vem sendo trilhados pelos grupos e artistas cênicos da região da COMCAM? Em que intensidade este movimento de pesquisa, experimentação e renovação é vivenciado pelos diretores, atores, cenógrafos, coreógrafos, acrobatas, bailarinos, o povo do palco e picadeiro que vive e trabalha nestas terras vermelhas? Não podemos perder a memória, negar o passado, mas para avançar se faz necessário ter uma perspectiva, um olhar e uma meta, um ideal. Até que ponto alcança nossa ousadia, nossa utopia e os nossos sonhos? Muito já foi feito, a seara outrora virgem já foi muitas vezes preparada, semeada e bons frutos vem sendo colhidos ao longo desta caminhada, trabalho firme de gente com compromisso social, artistas e produtores que acreditam em sua terra e sua gente. Graças a Deus, estes artistas (não citarei nomes) possuem estilos e visões próprias, é positiva esta diversidade, mas sobretudo se ela vem acompanhada do diálogo e da troca em seu sentido mais amplo. Resumo da ópera, é hora de pesquisar, estudar teoria, praticar o ato teatral, ensaiar, escrever, produzir, aprofundando ainda mais este plantio de cultura, este rito iniciático e lúdico no qual a cidadania concretiza-se em cena, onde jovens e pessoas as vezes não tão jovens atuam, interpretam, contracenam e celebram a vida com a platéia. Mais do que novos artistas, ou novas platéias, neste plantio semeia-se consciência, por isto insisto, vamos parar um pouco e refletir muito sobre o trabalho que vem sendo desenvolvido nas últimas décadas, e planejar a continuidade e expansão deste importante trabalho de Teatro. È HORA DE RENOVAÇÃO, NOVOS CAMINHOS, ESTUDO, ENSAIO, TRABALHO, para que as novas colheitas sejam dadivosas e pródigas em nossos palcos.

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